Pesquisadores e professores de escolas de Comunicação Social que não fazem parte da rede do Ministério da Educação afirmam que os editais e chamadas públicas lançados pelo governo privilegiam apenas as
universidades federais.
O princípio de defesa das instituições de ensino superior públicas federais estaria correto não fosse a realidade da universidade brasileira, principalmente no que diz respeito aos estudos de Comunicação. Neste caso, o que está ocorrendo é uma distorção, afirmam os pesquisadores Cosette Castro, da Universidade Católica de Brasília (UCB), Alvaro Benevenuto Jr., da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Maria Cristina Gobbi, da Unesp, Sergio Gadini, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Cristiano Max Pinheiro, da Feevale, no Rio Grande do Sul e Alberto Perdigão, da Universidade de Fortaleza (Unifor).
Os seis pesquisadores que atuam em universidades públicas municipais e estaduais, comunitárias, confessionais e privadas contam que existem 106 universidades federais no país com cursos de Comunicação. “Eles recebem 9,4% dos alunos brasileiros (18.700 jovens), mas 100% dos seus pesquisadores podem participar dos editais do governo federal”.
De outro lado, estão 1.246 universidades públicas municipais
e estaduais, comunitárias, confessionais e privadas que recebem 90,6% dos estudantes de Comunicação do país. São
206 mil 374 alunos
espalhados pelo Brasil que - junto com
seus professores e pesquisadores - são
impedidos de participar dos editais e chamadas públicas do governo federal.
Esses estudantes têm como espaço de formação o mercado, enquanto os estudantes
das universidades públicas federais são preparados para pesquisar, pensar políticas públicas e
futuramente ocupar altos cargos.
A
partir dessa realidade, os pesquisadores do Centro-Oeste, Sul, Sudeste e
Nordeste do país decidiram lançar na quinta-feira, 19/2, uma carta aberta ao ministro da Cultura, Juca
Ferreira, extensiva ao ministro da secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República, Thomas Traumann, através do site de petições Avaaz.
Nele solicitam que os editais e chamadas públicas do governo
federal sejam ampliados para todas as universidades, com critérios claros de
participação, inclusive para jovens cursos de pós-graduação em Comunicação que
leve em consideração o currículo e experiência dos pesquisadores.
“Trata-se
de uma dupla exclusão”, diz Cosette Castro, que coordena o Observatório
Latino-Americano das Indústrias de Conteúdos Digitais (Olaicd) na Universidade
Católica de Brasília, do qual participam pesquisadores brasileiros e de oito
países da Região. A primeira ocorre dentro
do próprio governo. “Ao excluir as demais universidades, tratam os professores e pesquisadores como cidadãos
de segunda categoria. No entanto, se observamos os currículos Lattes desses
pesquisadores encontramos uma importante produção acadêmica reconhecida dentro
e fora do país”.
A
segunda exclusão é ainda mais perversa, conta a pesquisadora, porque atinge 90,6% dos estudantes de Comunicação do Brasil,
entre eles a camada mais pobre da
população. “50% dos estudantes de
universidades privadas, comunitárias ou confessionais recebem bolsa integral ou
parcial do PROUNI”. Eles são diretamente prejudicados pelos editais do
governo federal, já que não podem participar de projetos de iniciação
científica e outras chamadas que possibilitam a formação de um jovem
pesquisador, seja no âmbito da graduação ou da pós-graduação.
Os pesquisadores recordam que se - essa política de exclusão, também presente nas
instituições de fomento como a CAPES e o CNPq - sempre existisse, vários projetos ligados
direta ou indiretamente à área da
Comunicação, não poderiam ser desenvolvidos. É o caso do middleware Ginga – que permite a interatividade na TV digital pelo
controle remoto e foi desenvolvido em software
livre pela PUC-RJ; do Observatório Latino-Americano das Indústrias de
Conteúdos Digitais (OLAICD), da UCB - DF ; da TV digital da UNESP, que estaria
esperando até hoje para ir ao ar; ou do curso de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de caráter confessional, que não chegaria a nota 6. Esses são apenas
alguns exemplos da expertise existente na academia brasileira, que atuam
mais além das fronteiras das
universidades federais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário