Da revista Carta Capital:
A mídia nativa raramente fala de si, ao contrário do que
acontece nas democracias maduras, onde os meios de comunicação, o “quarto
poder”, vigiam-se uns aos outros. É um traço do oligopólio. Os erros são
escondidos, os crimes protegidos (quem não se lembra da ameaça – “mexeu com a
Abril, mexeu com todos" – de um dos Marinho ao governo caso a base aliada
ousasse investigar as relações bandidas de jornalistas da Veja com o bicheiro
Carlinhos Cachoeira?). Só se abre exceção quando se trata de perseguir uma
obsessão do baronato, em especial da Folha de S.Paulo: tentar provar que
veículos, blogs e sites não alinhados ao pensamento dominante são financiados
de forma “bolivariana” pelo governo. É outro traço do oligopólio. Quem pensa
diferente deve ser tratado como criminoso. Eliminado, se possível.
Em geral o empenho resulta em um tiro n’água. Aconteceu de
novo. Os valores de gastos de publicidade das estatais apresentados pela Folha
de S.Paulo nesta quarta-feira 17 falam por si só. Quem mais recebe, de forma
abundante, desproporcional até, são eles mesmos, os barões. As Organizações
Globo embolsaram entre 2000 e 2013 mais de 5 bilhões de reais em publicidade
das companhias públicas, pouco menos de um terço dos investimentos públicos.
Isso em um período em que a audiência da emissora despencou. O grupo é, aliás,
um fenômeno mundial, único caso de uma empresa de comunicação que consegue
elevar a sua tabela de preços enquanto perde telespectadores, ouvintes e
leitores. Teria relação com a propina legalizada chamada Bônus de Veiculação
(quanto mais anúncios programa em meios da Globo, maior a fatia do bolo
capturada pelas agências de publicidade)? O BV é também ele um fenômeno único.
Só existe no Brasil.
Listemos outros beneficiários do Bolsa-Mídia: Editora Abril,
dona da revista Veja (523 milhões no mesmo período), TV Record (1,3 bilhão),
SBT, que emprega Rachel Sheherazade (1,2 bilhão), Band (1 bilhão), IstoÉ (179
milhões). A revista Época entra na conta da Globo.
Uma outra informação talvez explique a mágoa da Folha. Entre
o fim do governo Fernando Henrique Cardoso e este último ano do primeiro
mandato de Dilma Rousseff, houve uma democratização da distribuição de
recursos. O número de meios de comunicação que recebem investimentos de
estatais passaram de 4,4 mil para 10,8 mil. Em resumo, os grandes grupos
perderam participação relativa no bolo.
Agora compare os números do oligopólio com aqueles de
Carta Capital, revista, segundo a Folha, alinhada ao governo (presumimos que a
Folha e os demais sejam alinhados à Casa Grande, hoje representada pelo
tucanato e associados, no passado recente pelos golpistas de 1964, a quem,
diga-se, o jornal da família Frias serviu com denodo, a ponto de emprestar suas
kombis para o sequestro de militantes de esquerda pela repressão). Em 14 anos,
a Editora Confiança, dona de Carta Capital, recebeu 44,3 milhões de reais de
todas as estatais. Isso equivale a 62 mil reais por edição. Impressionante.
CartaCapital circula há 20 anos e é semanal desde 2001. Sua circulação nacional
é auditada pelo IVC e a fatia de publicidade corresponde a sua posição no
mercado. Tudo feito de forma transparente, clara.
Já não se pode dizer o mesmo das relações da Folha e do
resto do oligopólio com o governo do estado de São Paulo. Quando governador,
José Serra estabeleceu a compra sem licitação de lotes de assinaturas da Folha
de S. Paulo, O Estado de S.Paulo,Veja, Época e IstoÉ. Geraldo Alckmin manteve o
mimo. Em 2011, segundo o Diário Oficial do Estado, o governo paulista pagou
2,58 milhões de reais por um lote de 5,2 mil assinaturas da Folha. Foram 2,7
milhões para o Estadão, 1,2 milhão para a Veja, 1,3 milhão à IstoÉ e 1,2 milhão
à Época. Total: 9 milhões apenas em um ano. A renovação tem acontecido no
mínimo desde 2008. Mas sobre isso, a mídia hegemônica prefere silenciar.
Seria interessante que houvesse essa informação sobre experiência do GDF.
ResponderExcluirO GDF nãdá tanta transparência assim as suas despesas com publicidade e propaganda.
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