quarta-feira, 20 de junho de 2012

Jornalista pede demissão após governo da Bahia censurar sua reportagem

Publicado originalmente no Portal Brasil

A liberdade de imprensa foi assegurada no Brasil em 28 de agosto de 1821, por um decreto assinado por D. Pedro I e cassada em 1968 pelo Ato Institucional 5 (AI-5) cassou a liberdade de imprensa. Nada menos que 191 anos depois, a Bahia parece retroceder ao AI-5. O governo do Estado censurou uma matéria do site Bocão News. A matéria fala dos gastos com publicidade do governo da Bahia. Sem opinião, mas repleta de números (Leia abaixo)  .
Após a empresa assentir ao pedido e retirar a matéria do ar, o jornalista Guilherme Vasconcelos, escriba da denúncia pediu demissão em protesto e lançou a seguinte justificativa:
“Hoje, pedi demissão do site Bocão News, onde trabalhei nos últimos três meses. Escrevi, com base em dados oficiais, uma matéria que mostrava o crescimento exponencial dos gastos com publicidade do governo Wagner. Para minha surpresa, cerca de uma hora após a matéria ter sido postada, ordens da chefia chegaram até a redação para que a reportagem fosse retirada do ar.
De maneira truculenta e desrespeitosa, fui comunicado da decisão por terceiros através de mensagens de texto via celular. Também me foi dito que, por interesses econômicos e por pressão do “democrático” governo petista, a ordem era irrevogável.
Diante disso, não poderia agir de outra forma. Não se trata de querer bancar o herói, mas a demissão era a única saída honrosa. A coerência, a dignidade e a liberdade são valores inegociáveis para mim.
Na Bahia, estado que lidera a vanguarda do atraso, só verdades convenientes podem ser reveladas. Nosso jornalismo, salvo algumas honrosas exceções, é submisso e se aproxima do amadorismo.
A verdade é que aqui, terra dos superlativos – 69 dias de greve dos professores, 12 anos de metrô, pior prefeito de capitais –, praticamente não há jornalismo investigativo. Dizem que estamos na era da transparência. Na Bahia, a censura ainda é regra.

Agradeço a Daniel Pinto, Marivaldo Filho e Luiz Fernando Lima, que muito me ensinaram durante esses três meses e, certamente, continuarão me ensinando. (Guilherme Vasconcelos)”

Leia abaixo a matéria censurada na íntegra.

Governo Wagner eleva em 162% gastos com propaganda

Por Guilherme Vasconcelos, publicado originalmente no Bocão News

Entre 2007, primeiro ano da administração petista, e 2011, o governo Jaques Wagner elevou em 162,5% os gastos com propaganda, promoção e divulgação das ações do Estado. Nesse período, as despesas com publicidade saltaram de R$ 46 milhões para R$ 122 milhões. Os dados estão no relatório de contas de 2011 do governo do estado elaborado pela conselheira do Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE), Ridalva Figueiredo.
Em comparação com 2010, quando foram gastos R$ 109 milhões, houve um aumento de 12%. A Secretaria de Comunicação Social e a Casa Civil foram as instâncias do governo estadual que registraram maiores despesas na área, com R$ 29,2 milhões e R$ 13,9 milhões, respectivamente.
Entre as estatais, os gastos com publicidade foram liderados pela Empresa Baiana de Turismo (Bahiatursa), com R$ 11,4 milhões, seguida pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), com R$ 7,3 milhões, e a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), com R$ 3,3 milhões.
Seca  – Se o orçamento para a divulgação dos projetos do governo não para de aumentar, os recursos destinados a ações de combate à seca, problema que fez mais da metade dos municípios baianos declarar situação de emergência neste ano, foram considerados insuficientes pelo conselheiro Pedro Lino, que votou pela desaprovação das contas do governo durante julgamento realizado na semana passada.
“Através de pesquisa realizada por minha assessoria nos sistemas corporativos do Estado, verificou-se que foram aplicados recursos no montante de R$ 37.599.143,88 através da execução de apenas dois projetos e duas atividades visando a assistência às famílias e municípios e implantação de soluções hídricas. Entretanto, nenhuma destas ações foi estabelecida como meta prioritária”, critica o conselheiro no parecer sobre as contas do poder executivo, destacando que a quantia empregada para reduzir os efeitos da seca foi mais de três vezes menor do que os recursos destinados a promover as ações do governo.

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