domingo, 6 de maio de 2012

Opinião: O jornalismo precisa tomar cuidado para não servir ao crime organizado e aos que querem desmoralizar a democracia

CALMA, LEITORES MAIS APRESSADOS.
NÃO SE TRATA DE UM MEA CULPA DO BLOGUEIRO
EM RELAÇÃO À PARCERIA ENTRE VEJA E CARLOS CACHOEIRA,
MAS SIM DE UM NOVO ATAQUE AOS QUE DEFENDEM UM CAPÍTULO SOBRE A MÍDIA NA CPI
Por Reinaldo Azevedo, publicado originalmente no Brasil247
247 – Como todos sabem, a parceria editorial de uma década entre Carlos Cachoeira e a revista Veja, definida como “coabitação” pelo ex-presidente Fernando Collor, não gerou benefício econômico algum ao contraventor. Cachoeira, Demóstenes, Dadá, Jairo Martins e a construtora Delta, que compõem aquilo que se definir com precisão como “crime organizado”, jamais tentaram instrumentalizar a maior revista semanal do Brasil. Veja, portanto, nunca esteve a serviço do crime – sempre, a serviço do Brasil. Além disso, Dadá e Jairo, com seus grampos ilegais, nunca representaram qualquer ameaça à democracia. Eram apenas cinegrafistas amadores, em busca do bem comum.
Dito isso, o jornalismo não pode servir ao crime organizado e àqueles que querem desmoralizar a democracia. É a tese de Reinaldo Azevedo, exposta em um novo artigo, publicado neste sábado. Leia mais uma versão de O Grito:
SIM, O JORNALISMO PRECISA TOMAR CUIDADO PARA NÃO SERVIR AO CRIME ORGANIZADO E ÀQUELES QUE QUEREM DESMORALIZAR A DEMOCRACIA
Uma coisa vocês não podem negar a este escriba, não é? Desde o primeiro dia, apontei a ação dos petistas — encabeçados por Lula, José Dirceu e Rui Falcão — para usar as tramoias de Carlinhos Cachoeira e seu grupo para tentar melar o processo do mensalão e para intimidar a imprensa. A coisa agora é escancarada! Ontem, Rui Falcão (ver posts abaixo) perdeu qualquer restinho de pudor e declarou que a “mídia” será o próximo alvo do governo. Tudo indica que falou apenas em nome da banda heavy metal do PT, não do Planalto. Trato do assunto em outro post. Muito bem. “Melar” o mensalão compreende, entre outras coisas, um esforço para desmoralizar ministros do Supremo Tribunal Federal e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A imprensa independente — aquela que não é financiada com dinheiro público nem é subordinada a uma rede criminosa montada na Internet (isso ainda vai dar o que falar, anotem aí) — tem de tomar cuidado para não fazer, involuntariamente, o serviço da bandidagem. Infelizmente, aqui e ali, isso está acontecendo. Dado o pano de fundo, exporei aqui um caso emblemático. Antes de fazê-lo, no entanto, é preciso proceder a uma digressão para esclarecer algumas coisas.
Começa a digressão
Já escrevi aqui — e Eurípedes Alcântara, diretor de Redação da VEJA, divulgou uma Carta de Princípios a respeito da ética no jornalismo — que a qualidade moral da fonte não faz a qualidade da informação. Uma pessoa decente e muito bem-intencionada pode induzir um repórter ao erro. Um bandido pode dar uma informação relevante. O importante é o jornalista saber para quem está trabalhando. Não tenho receio nenhum de debater abertamente o que alguns vagabundos andam dizendo sobre VEJA. O inquérito que veio a público demonstra que o profissional da revista trabalhava a serviço da verdade e do interesse público. Quanto mais isso fica evidente, mais a corja radicaliza na retórica. A reportagem recebeu informações de Cachoeira? Também dele, a exemplo de uma penca de jornalistas. Ou algum repórter investigativo de Brasília se oregulha se só falar com beartos e beatas??? Matérias foram feitas só com informações do dito-cujo? Isso é uma piada, uma fantasia! Tanto as reportagens de VEJA eram fundamentadas, com dados inquestionáveis, que muitas delas estão, sim, na raiz da demissão de ministros e servidores. Mas atenção! Quem demite é a presidente Dilma Rousseff. VEJA não tem esse poder. Se a primeira mandatária tomou tal decisão, encontrou certamente razões muito fortes para tanto. Não deve ter sido só para não deixar chateada a equipe da revista, certo?
Jornalista não tem de fazer um tribunal de moral e cívica antes de falar com a fonte. Tem é de ter a certeza de que não trabalha para ela, mas para o interesse público. E tem de apurar muito bem os fatos, reitero, para não servir a bandidos, como fizeram, querendo ou não, os que sustentavam a veracidade do Dossiê Cayman. Naquele caso, sim, em vez de apuração, decidiu-se dar crédito à conversa de vigaristas. Tentaram, por exemplo, fazer de Luiz Antonio Pagot uma pobre vítima do inexistente complô VEJA-Cachoeira. Gravações que vieram a público, conforme demonstrei aqui, mostram o ex-chefão do Dnit se entendendo com a turma de Cachoeira. Vale dizer: aquela acusação era só uma vingança dos ressentidos com VEJA. Ressentidos por quê? Alguns porque perderam a boquinha. Outros porque não se conformam com o fato de o Brasil ser uma democracia — não é mesmo, Rui Falcão?
Vale dizer: o que dizem Cachoeira e seus rapazes — ou os seres mais impolutos — não pode ir parar nos sites, revistas e jornais sem que se verifique a veracidade das acusações. Ou se corre o risco de, sob o pretexto de combater a bandidagem, agredir instâncias do estado de direito. Como quer José Dirceu. Como quer Lula, Como quer Rui Falcão. Fim da digressão.
Agora o caso
Ontem, o Estadão Online publicou um texto de Ricardo Brito, da Agência Estado, cujo título era: “Grupo de Cachoeira tentou interferir em habeas corpus”. O busílis era o seguinte: o prefeito de Piraquê (TO), Olavo Júlio Macedo, estava preso, e a turma o queria solto. Gleyb e Eney, dois homens do esquema do contraventor, conversam a respeito do caso e dizem que será julgado o habeas corpus. Muito bem. Transcrevo em vermelho um parágrafo da reportagem. Leiam com atenção. Volto em seguida:
Às 15h30 daquele dia, Gleyb disse, em telefonema a um interlocutor não identificado pela PF, que estava no Senado para se encontrar com Demóstenes Torres (sem partido-GO), suspeito de envolvimento com Cachoeira. Às 16h44, o integrante do grupo de Cachoeira afirmou, em nova ligação, que iria passar em um ministério e no Supremo.
Um minuto depois, Gleyb pergunta, numa ligação para Eney, se há “mais alguma coisa” para conversar. O advogado responde que é preciso manter contato no Supremo, visando liberar o prefeito cujo habeas corpus estava com Gilmar Mendes.
Voltei
O que o trecho sugere? O óbvio! Que Demóstenes e o tal Geyb foram falar com Gilmar Mendes em favor do prefeito. Isso se deu no dia 9 de junho do ano passado. O senador ainda era uma referência de severidade e correção até para seus adversários. Ouvido, o ministro diz que ninguém foi procurá-lo. MAS ATENÇÃO! SE ALGUÉM O PROCUROU OU NÃO, ISSO É IRRELEVANTE. O RELEVANTE VEM AGORA!!!
GILMAR MENDES NEGOU DUAS VEZES A CONCESSÃO DE HABEAS CORPUS AO TAL PREFEITO! No dia 29 de junho e no dia 5 de dezembro de 2011. Muito bem! Agora faço a pergunta essencial para que avaliemos os riscos que estamos correndo com certo tipo de apuração e reportagens que andam na praça — mesmo na imprensa que tem compromisso com a seriedade. Lá vai:
E SE GILMAR MENDES TIVESSE RECONHECIDO MOTIVOS TÉCNICOS, JURÍDICOS, PARA CONCEDER O HABEAS CORPUS?
Agora o ministro estaria lascado, e aquela fala serviria como evidência de que ele estaria trabalhando para o grupo de Carlinhos Cachoeira. Por sorte, ele entendeu duas vezes que o pedido de habeas corpus era descabido.
Entenderam?
Vocês entenderam a natureza da questão? Uma coisa é o que a gangue diz entre si, suas bravatas, suas demonstrações de influência. Outra, distinta, são os fatos. O repórter afirma: “Esta é a segunda vez que pessoas ligadas a Cachoeira aparecem em grampos telefônicos comentando casos que estão nas mãos Mendes.” Incrível! Mesmo com a evidência de que a decisão do ministro não atendeu às expectativas da turma, mantém-se a sombra da suspeita. Na primeira vez, num caso envolvendo uma estatal de Goiás, Demóstenes faz referência a um procedimento regular de Mendes, que não teve mérito ainda decidido. Revela apenas a sua expectativa. Mesmo assim, o senador apresenta a coisa como decorrência de sua influência.
Ora, ministros do Supremo, agora, não são mais livres para decidir segundo a lei. Habeas corpus? O jeito vai ser dizer sempre “não”! Vai que surja uma conversa de alguém: “Ah, já falei com o ministro X, está tudo certo!” Cada membro do Supremo teria de ter o seu próprio sistema “Guardião” e grampear o país inteiro. Só assim teriam a certeza de que sua decisão estaria a salvo de ilações.
O mal que Demóstenes fez
Um episódio como esse dá conta do mal que Demóstenes fez à política — muito maior do que ele imagina, acho. Ele era um medalhão do Senado. Um senador manter conversar com ministros do Supremo, do STJ, ministros de estado, autoridades etc. é parte do jogo. Quem lhe recusaria, em princípio, uma audiência? Que diabos, no entanto, ele dizia a seus interlocutores sobre esses encontros? Num outro pleito seu, já nem me lembro sobre qual assunto, não diz ele que mantinha boa conversa com a ministra do Meio Ambiente? Não se relacionou, também, com autoridades dos ministérios da Educação e da Saúde?
Este caso em que o nome de Mendes é citado deveria servir de alerta para os jornalistas que lidam com o material que foi vazado sobre o inquérito — a propósito: suponho que os vazadores sejam as carmelitas descalças, né? O ministro poderia ter concedido o habeas corpus de boníssima-fé. E estaria agora encalacrado.
Não estão por aí os criminosos da Internet a sustentar que as fitas que traziam imagens do “governo paralelo” de Dirceu — fitas do circuito interno do hotel, reitere-se — foram passadas à VEJA por Cachoeira em troca de uma reportagem favorável a bingos eletrônicos? Cadê a reportagem? Se alguém a encontrar, nunca mais escrevo uma linha!
É bom botar essa bola no chão. Jornalistas decentes só querem a verdade. E têm de ter claro que há vigaristas querendo apenas as instituições — para destruí-las.


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