domingo, 19 de dezembro de 2010

Opinião: Wikileaks e o mundo de pernas pro ar

Por Paulo José Cunha *

O impacto da revelação dos 250 mil documentos do Departamento de Estado dos Estados Unidos pelo site Wikileaks ainda está por ser avaliado do ponto de vista de sua influência na forma de produção do jornalismo do futuro e da política de confiabilidade das informações oficiais.

No primeiro campo, temos a dolorosa missão de informar que o jornalismo, tal como vem sendo praticado até hoje, acabou. A revolução enfrentada com a chegada das redes sociais se converteu em furacão. O jornalismo dito convencional agora chancela informações transmitidas pela internet. E assim se resgata a sua função original – a de efetuar o filtro indispensável à credibilidade do produto oferecido à população. Os que proclamaram a morte da grande imprensa com o advento dos facebooks e twitters da vida se encrencaram. Julian Assange, antes de dar à luz sua bomba de informações, foi atrás dos jornais Der Spiegel, Le Monde, El País e The Guardian pra ajudá-lo a desembrulhar o pacote. Ele sabe que a credibilidade da divulgação repousa na autenticação de quem se dedica, há décadas, ao trabalho de separar o que vale a pena do que é lixo. Embora haja sites e blogs extremamente confiáveis, na grande rede ainda reina o caos resultante da mistura alucinada de fofoca, opinião, informação e boato. É imprescindível que apareça alguém pra botar ordem no galinheiro e separar ovo de páscoa de ovo de ganso, de ovo de galinha, de ovo de Colombo e de ovo de codorna. Há ovos e ovos. Assange sabe disso.

De outra parte, os governos, embora ainda esperneiem, precisam entender, de uma vez por todas, que nem todo o aparato do mundo é capaz de assegurar o sigilo de informações confidenciais em tempos de internet. Os hakers, primeiro subproduto de timbre anarquista e roqueiro da web estão podendo, e provaram isso ao protestar contra a tentativa de punição a Assange derrubando com extrema rapidez e eficiência as páginas do Visa e do Mastercard, que brecaram o acesso dele às contas pessoais e às do site que dirige. Para eles, quebrar o sigilo de informações é mais fácil que tomar pirulito de criança.

Ou seja: informação é produto que precisa circular, mesmo que doa aqui ou ali. A sociedade do futuro, definitivamente, não é a sociedade do Big Brother de H. G. Wells, mas sim a sociedade do Wikileaks, em que tudo sobre todos será do conhecimento de todos, para o bem de tudo e de todos, e felicidade ou infelicidade geral do planeta, a depender do ponto de vista.


*Paulo José Cunha é jornalista e professor na UnB


As opiniões aqui postadas são de responsabilidade de seus autores

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