A presidente Cristina Kirchner propôs ontem a "nacionalização" dos meios de comunicação, que, na sua visão, não têm atendido aos "interesses nacionais". Sem deixar transparecer intenções mais claras, contudo, Cristina foi enfática ao ressaltar que não pretende "estatizar" a mídia.
Segundo a presidente - que há dois anos alerta constantemente sobre um hipotético "golpe de estado" preparado pela mídia em conjunto com a oposição -, "seria importante nacionalizar os meios de comunicação para que eles tenham consciência nacional e defendam os interesses do país".
Ela criticou especificamente o fato de haver "tantos microfones e câmeras de TV sobre os problemas do crescimento econômico (de hoje)", enquanto os veículos da mídia "acobertaram, ignoraram e muitas vezes foram cúmplices da política de entrega e subordinação sem dizer uma só palavra ou tirar uma só foto".
"Às vezes penso que seria interessante nacionalizar; não estatizar. É melhor que isso fique claro para que amanhã ninguém dê uma manchete errada", destacou com o dedo em riste, sem explicar a sutileza.
Em várias outras ocasiões, Cristina acusara a mídia - especialmente os jornais Clarín e La Nación - de "cumplicidade com os interesses estrangeiros". Para ela, os jornais respaldam a suposta intenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) de controlar a política econômica argentina.
No discurso de ontem, Cristina mostrou-se como vítima da mídia ao afirmar que continuará apostando "nos interesses da Argentina" e no "modelo virtuoso" de sua administração, apesar do que chamou de "ataques dos meios de comunicação".
A presidente é conhecida por aproveitar qualquer cerimônia ou comício para lançar críticas contra o jornalismo. Ontem, as declarações sobre "nacionalização" da mídia foram feitas durante a inauguração de uma fábrica têxtil na cidade de Mercedes, na Província de Buenos Aires.
Recentemente, durante a cerimônia de ampliação da produção de um laboratório na cidade de La Plata aproveitou a exibição de vacinas antirrábicas para ressaltar que "muitos jornalistas deveriam tomar esta vacina".
A relação de Cristina e seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), com a mídia sempre foi tensa. Nos últimos sete anos os Kirchners favoreceram grupos de mídia alinhados com o governo com publicidade oficial, pressionaram jornais críticos e aprovaram - em meio a denúncias de compra de votos - uma polêmica Lei de Mídia, que restringe a atuação dos canais de TV e redes de rádio.
Os conflitos se intensificaram a partir de 2008, quando Cristina afirmou que a mídia pretendia derrubá-la. No início deste ano, ela afirmou que era vítima de um "fuzilamento midiático".
Repúdio. A Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina (Adepa) repudiou as "persistentes ofensas" contra jornalistas e meios de comunicação por parte de altos funcionários do governo de Cristina. Segundo a entidade, a presidente - desde que começou a usar o a rede de microblogs Twitter há um mês - "multiplicou as ironias e injúrias" contra empresas e profissionais de mídia. Segundo a Adepa, "a informalidade própria do Twitter não diminui a gravidade das mensagens que são transmitidas por intermédio dele".
A presidente costuma criticar também a Justiça Federal - que suspendeu várias medidas do governo, incluindo a maior parte da Lei de Mídia -, sugerindo que existem conexões irregulares entre juízes e jornalistas.
Preocupante. Estudos bem estruturados têm demonstrado que, em linhas gerais, na América do Sul há "ondas", politicamente falando. Se for o caso...
ResponderExcluirNão compreendi seu comentário. Acho que faltou algo
ResponderExcluirQuero dizer que, do mesmo modo que em décadas passadas houve um ciclo de ditaduras militares na América do Sul, corre-se o risco de haver um ciclo de cerceamento à liberdade de expressão. As causas desse eventual "contágio" é que precisam ser melhor estudadas.
ResponderExcluirAcho que temos muito pouca informação sobre as transformações midiáticas que acontecem na América do Sul. Estamos, em muitos países, numa transição de marcos legais que trocam a liberdade de mercado nos moldes norte-americano para a função social da mídia, nos moldes europeus. Muitas das novas medidas já existem lá fora, inclusive nos EUA, mas a nossa mídia de caráter comercial oculta tais informações da opinião pública. Ou o que é puior, como acontece agora no caso do Ceará, desinforma.
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