Jornal teve circulação interrompida; profissionais entraram em férias e podem ser realocados em outras empresas da CBM
Por Paula Ganem, do M&M Online, 01/06/2009
Como os acontecimentos da semana passada já indicavam, o jornal Gazeta Mercantil deixou de circular a partir desta segunda-feira, 1º de junho. Além da edição impressa, a versão online do informativo de economia também está fora do ar. No lugar do antigo site, aparece apenas um comunicado da Companhia Brasileira de Mídia (CBM), afirmando que a empresa não é mais responsável pela representação das marcas Gazeta Mercantil e InvestNews.
A confirmação veio depois de uma semana angustiante. Na quinta-feira, 28, o CEO da Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), Eduardo Jácome, informou à equipe de funcionários do jornal que a Gazeta Mercantil - às vésperas de completar 90 anos e outrora o mais importante periódico econômico do Brasil - deixaria de ser publicada pelo grupo na sexta-feira, 29, e voltaria a ser de responsabilidade de Luiz Fernando Levy, seu antigo dono. Os funcionários entrariam em férias remuneradas de 30 dias. Depois desse prazo, eles devem retornar à empresa para que seja definida a realocação em outros projetos da CBM. Quem não for remanejado terá mais 30 dias de aviso prévio. As operações online com o nome da Gazeta e da Investnews também foram suspensas, mas a CBM manteve quatro pessoas para prestar o que definiu como um serviço paralelo na área.
O que vai acontecer com a marca Gazeta ainda é uma incógnita. De acordo com informações extraoficiais, Levy teria pedido a Nelson Tanure, o proprietário da CBM, 90 dias para tomar uma decisão, mas a proposta foi negada. Durante as reuniões na sede do jornal, em São Paulo, chegou a ser aventada a hipótese de os próprios funcionários passarem a deter o direito de uso da marca; porém, a ideia também não seguiu adiante. Caso Levy não reative o periódico ou entre em acordo com Tanure, nem os funcionários levantem essa bandeira, há ainda a possibilidade de que a marca vá a leilão - o que já aconteceu no passado, em outros grupos de mídia, com seus títulos, como a revista Manchete, da Bloch.
Os últimos capítulos da história da Gazeta sob o comando da CBM começaram a ser escritos na segunda, 25, quando Tanure informou em um primeiro comunicado que estava devolvendo o título a Levy e, assim, rompendo o contrato de licenciamento de 60 anos para o uso da marca. O principal motivo seria o custo com o passivo da Gazeta. Inicialmente, pensou-se que o problema era basicamente as ações trabalhistas. Mas, segundo fontes ouvidas por Meio & Mensagem, na reunião Jácome citou também a cobrança de R$ 32 milhões em impostos relativos ao período anterior ao contrato com a empresa de Tanure. Conforme matéria da própria Gazeta, desde 2003 os recursos adiantados pela CBM para o jornal chegam perto de R$ 100 milhões.
Sem ilusão
Apesar de Tanure ter afirmado que estava disposto a contribuir com Levy para que o jornal não fosse descontinuado, o primeiro contato deste último com os funcionários não foi nada animador. "Não se iludam, acabou", afirmou ao telefone aberto no viva-voz para que todos pudessem ouvir, ainda na segunda, 25. No dia seguinte, porém, Levy mostrou-se mais contido ao enviar um comunicado interno à equipe.
Lançada em 1920, a Gazeta Mercantil foi por décadas a principal referência do jornalismo econômico do País. A sua circulação paga chegou a ser superior a 120 mil exemplares, e a equipe de jornalistas recebia alguns dos melhores salários do mercado. A qualidade de apuração, a profundidade na abordagem dos temas e os desenhos em bico-de-pena tornaram-se algumas das marcas do jornal. Na virada para os anos 2000, a má gestão da empresa começou a emperrar, e os salários, a atrasar. Também entrou em cena um concorrente na área em que até então a Gazeta reinava absoluta: o Valor Econômico. Em 2001, a crise tornou-se aguda com a greve dos funcionários do jornal, que exigiam o pagamento dos salários. Dois anos depois, em dezembro de 2003, Tanure fechou o acordo de licenciamento com Levy.
O rompimento do contrato ocorre logo após a alta temporada de publicação de balanços financeiros, uma das principais fontes de receita da Gazeta e segmento em que o jornal é vice-líder de mercado (o Valor lidera o ranking). Mas o pagamento das agências à Gazeta já eram todos feitos em juízo para garantir o cumprimento de dívidas. A Justiça também penhorou ações da Intelig, controlada por Tanure, para garantir o pagamento de dívidas trabalhistas da Gazeta. O empresário está em negociações para vender a operadora à TIM. Procurados pelo M&M, a diretoria da CBM e Levy não se pronunciaram. A Gazeta deixou de ser filiada ao Instituto Verificador de Circulação em setembro. Na ocasião, a sua circulação média por semana era de 70 mil exemplares.
É lamentavel está notícia,confesso que fiquei muito surpressa com tal fato.
ResponderExcluirParabéns pelo blog
Liz, o curioso é que a Gazeta Mercantil foi vítima de uma bandeira que ela dendeu em toda a sua existência, qual seja, a linha econômica neo-liberal
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