quarta-feira, 15 de abril de 2009

Rupert Murdoch e diretor do Estado de São Paulo defendem o fim dos sítios jornalísticos gratuitos

A posição é a mesma. Tanto o representante do Estadão, quanto o mega empresário das comunicações Rupert Murdoch apresentam a mesma solução para solucionar os efeitos da crise econômica por que passa a imprensa escrita. Em uma época em que os jornais de distribuição gratuita, tipo Metrô e 20 Minutos ganham espaço, a receita deles é acabar com os conteúdos gratuitos e fazer com que o leitor, seja no formato papel, seja na web, pague pela informação que recebem.
As posições foram noticiadas separadamente em período simultâneo pelos sitios Portugal Digital e pelo Blog das Américas, cujas matérias reproduzimos abaixo.
Após a leitura, convido a todos a comentarem o tema.

Murdoch diz que jornais devem cobrar por conteúdo online

Por Maya Srikrishnan do Blog JORNALISMO NAS AMERICAS, em 04/06/2009 - 21:11

Rupert Murdoch, diretor da News Corp., disse que os jornais devem cobrar por seu conteúdo online e substituir assim a queda da receita publicitária, informou o Market Watch.
O magnata é dono de um dos poucos diários dos Estados Unidos que cobra pelo acesso de seu conteúdo na internet, o Wall Street Journal. Murdoch disse que esta política do jornal "não é uma mina de ouro, mas não é ruim", disse a Reuters.
Como exemplo, Murdoch mencionou o New York Times. O jornal tem um dos sites da internet mais visitados do país, mas ainda não é capaz de cobrir todos os seus custos com a venda de anúncios na web, disse. Seus comentários chegam num momento em que o New York Times realiza um debate semi-público sobre a cobrança ou não do acesso a parte ou a todas as suas notícias e comentários na internet.

Cobrança pelo conteúdo jornalístico na internet divide opiniões. Proposta foi apresentada pelo Estadão em seminário.

Por Hélia Ventura do Portal Portugal Digital

Em seminário realizado recentemente, na sede da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, o diretor de conteúdo do Estadão, Ricardo Gandour, defendeu o fechamento do conteúdo dos sites jornalísticos como forma de as empresas do setor sobreviverem às mudanças promovidas pelas novas tecnologias. Na ocasião, ele declarou que “todos os jornais devem fechar o conteúdo gratuito e passar a cobrar. Senão, será a morte do jornalismo”.
Gandour observa que, com a diminuição das receitas, os jornais precisam cortar os custos de produção, refletindo na qualidade jornalística. “o jornalismo está ameaçado”, afirma. Sua opinião é rechaçada pelo diretor de Redação do O Globo, Rodolfo Fernandes. “Quero ver alguém convencer o meu filho a pagar por uma informação que ele foi acostumado a ter de graça”, rebateu ele, em tom de brincadeira, na ocasião.
Fernandes não apresenta uma fórmula para salvar os jornais. Pelo contrário, não pensa que eles precisem de salvação. Ele avalia a internet como uma oportunidade para aumentar o número de leitores das notícias. Entretanto, lembra que, até o momento, as operações online não são rentáveis e são custeadas pelas receitas do jornal impresso.“A internet não é rentável até agora. Ela, sozinha, não se sustenta. Existe uma defasagem entre o que a internet traz de audiência e o que ela traz de receita”, afirma.
Rentável ou não, no papel ou na internet, o importante é que os veículos não percam a credibilidade e o prestígio. Essa é a defesa do pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Fernando Lattman-Weltman, que enxerga o valor dos veículos tradicionais na legitimidade institucional que possuem.
O Portugal Digital buscou a opinião de outros profissionais, como da professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do CNPq, também coordenadora do Ponto.Gris/UFMG (Grupo de Pesquisa sobre Interações Telemáticas), Beatriz Bretas. Ela assim se manifesta sobre a questão: “acredito que o jornalismo e as instituições jornalísticas estão em permanente processo de transformação. A história da comunicação tradicional corporativa é recente e não conta com mais de dois séculos. A organização da produção de jornais sob a forma de empresa, que com outras empresas da indústria cultural compõe o sistema midiático, é uma realidade do século XX.
Em relação a esse quadro da mídia, a internet está tendo um papel significativo nas mudanças atuais, a partir da liberação do pólo emissor. Ou seja, contingentes de indivíduos que eram vistos apenas como audiência, ou recepção, tornam-se produtores de conteúdos. Além disso, outras empresas e organizações de diferentes naturezas e finalidades passam também a exercer funções midiáticas distribuindo material informativo. Quero dizer com isso que as empresas jornalísticas, de uma forma ou de outra, passam a enfrentar a concorrência de muitas outras fontes de informação, que podem ser acessadas de modo gratuito, como os caso de blogs de jornalistas ou pessoas de grande reputação."
"A possibilidade de acesso livre, ao meu modo de ver, é um forte motor para uma distribuição mais igualitária da informação e do conhecimento. É importante ponderar que a credibilidade e a confiança de leitores em versões online de veículos tradicionalmente constituídos é fator de opção ao acesso, mas a não gratuidade é uma limitação à audiência. Portanto, acredito que os veículos jornalísticos, para não serem preteridos por outras fontes, deveriam desenvolver modos de financiamento de sua produção baseados em formas criativas e não invasivas de publicidade e propaganda, além da oferta de outros serviços”.
Também ouvido pela reportagem, o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Aloísio Morais Martins, disse considerar a ideia positiva, embora avalie que a cobrança pode elitizar ainda mais o acesso à informação. “É uma maneira de dar mais credibilidade ao conteúdo jornalístico. Quem paga, tem direitos, inclusive, o de reclamar, e quem cobra, a obrigação de oferecer qualidade. Isto pode ser um fator a contribuir para a melhoria da qualidade da informação”, afirma o presidente do SJPMG.
Como ponto positivo, ele também entende que a cobrança pode estimular a competitividade entre as empresas e contribuir para o fortalecimento econômico do setor, trazendo,como resultado a melhoraria do mercado de trabalho para os profissionais. “Uma empresa forte, bem estruturada, terá condições de investir mais na reportagem, ter uma equipe bem remunerada”, afirma. Mas pondera que a iniciativa pode restringir o acesso à informação, elitizando ainda mais o que hoje já é reservado a uma parcela privilegiada, representada pelo universo dos que contam com os recursos da internet. E, quanto a isto, vale lembrar que pesquisa da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) indica que o acesso à rede internacional de computadores ainda não atinge sequer 2% dos mais pobres na região.
(*) Com agência

3 comentários:

  1. Interessante debate, Chico. Concordo com a profa. Beatriz Bretas, quando diz que as empresas midiáticas devem buscar modos criativos para financiar sua produção. Algo que tomei conhecimento recentemente foi a idéia de um site que financia blogs. O nome é "Kachingle.com". Funciona assim: este site se propõe a ser um gestor da sua vontade de apoiar determinados blogs. Se vc quer contribuir para que alguns blogs se sustentem, vc compra uma espécie de um cartão (a média de crédito neste cartão seria de uns 15 reais). Os blogs passam a colocar o símbolo deste site em suas páginas, e então, se o leitor gosta do conteúdo do blog, clica no ícone. No final do mês, pelo que entendi, o site distribui o quanto vc se propôs a doar entre os blogs nos quais vc "votou". Se as mídias online aderissem à idéia, ocorreria assim: o leitor que gosta de uma matéria ou gosta da qualidade da informação daquele veículo, vai se propor a contribuir financeiramente com ele, voluntariamente, única e exclusivamente porque gosta de seus conteúdos e não quer que eles desapareçam. Claro que esse voluntarismo varia de mercado para mercado (o perfil do mercado americano é diferente do mercado brasileiro), mas a idealizadora deste site de financiamento de blogs afirma que quando vc doa recursos para algo que vc considera respeitado (seja um blog, uma matéria, seja um veículo) isso fornece a você um status, pois seu nome poderia aparecer ali como um dos financiadores do site. As empresas de comunicação estão se interessando pela idéia, mas algumas acham que não funcionará tão bem quanto tem funcionado para os blogs. Não sei se deu para entender, mas é uma saída criativa e que aposta não em uma medida restritiva (fim da gratuidade), mas num meio-termo que dá ao leitor a liberdade de contribuir se quiser, tendo em vista a qualidade e o conteúdo do site. Será que funcionaria no Brasil? Mais info sobre o funcionamento desse "kachingle" tem numa matéria em inglês do Guardian:
    http://www.guardian.co.uk/technology/2009/apr/02/internet-startups-kachingle

    ResponderExcluir
  2. Oi Lu, bemvinda ao debate.
    Sua proposta tem sido usadas por algumas bandas de rock que disponibilizam as músicas na web e o internauta paga o quanto quizer pelo música que baixar. Parace que tem dado resultado.
    Na verdade é uma idéia que lembra o modo como o rádio chegou o Brasil, eram as associações e clubes de ouvintes de rádio que financiavam a programação veiculada. Foi o caso da Roquete Pinto.
    Creio que o cidadão de hoje se sente satisfeitos com as pilulas informativas que ele recebe na Internet e não se interessa em uma leitura mais profunda, que só o jornal ou a revista paga propiciam. O que os dois empresários sugerem é fechar a torneira desta informação rápida e curta para obrigar uma leitura paga. Só que eu tenho dúvidas se as pessoas irão pagar. Ainda mais nesta crise. A saída é como vc falou, encontrar fontes alternativas de custeio. Só que a publicidade, como você pode ver numa nota postada acima, anda mal das pernas em todo o mundo.

    ResponderExcluir