Em
64 anos, rádio de Minas Gerais
"elege" 24 parlamentares
Por Carlos Eduardo Cherem, publicado
originalmente no portal UOL
Uma
das rádios mais populares entre os mineiros, a rádio Itatiaia tem ajudado a
alavancar a carreira política de
vários profissionais que participam ou participaram de sua
programação. Já são 24 os integrantes da "bancada da rádio" ao
longo dos seus 64 anos de história.
Os
dois últimos foram Álvaro Damião (PSB),
repórter de esporte, e Catatau da Itatiaia (PSDC),
comentarista sobre direitos do consumidor, que foram eleitos vereadores em Belo Horizonte no início do mês.Uma
das rádios mais populares entre os mineiros, a rádio Itatiaia tem ajudado a
alavancar a carreira política de
vários profissionais que participam ou participaram de sua
programação. Já são 24 os integrantes da "bancada da rádio" ao
longo dos seus 64 anos de história.
Além
dos novos vereadores, há atualmente o apresentador João Vítor Xavier
(PSDB) e locutor esportivo Mário Henrique Caixa (PV) que são deputados
estaduais, e o apresentador de programa policial Laudívio Carvalho (SD),
que é deputado federal.
Fundada em 1952, já foram 12 profissionais de
comunicação eleitos para a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte,
outros seis eleitos para Assembleia Legislativa de Minas, três para a Câmara
Federal e um para a Câmara Municipal e Assembleia.
Junia Marise, por exemplo, além de vereadora, foi deputada estadual e
federal, senadora e vice-governadora de Minas Gerais. E um dos mais
conhecidos integrantes políticos da rádio é o jornalista Hélio Costa (PMDB),
que foi deputado federal por dois mandatos, senador e ministro das
Comunicações. Costa também se candidatou ao governo em 2010, mas acabou
perdendo para o senador Antonio Anastasia (PSDB)
"A rádio (Itatiaia) não
incentiva, nem coloca obstáculos", afirma o proprietário da Itatiaia
Emanuel Carneiro. "É direito do profissional participar do processo
democrático", diz o radialista.
Para
Carneiro, o fato de diversos nomes da rádio ter sido eleito revela a
"intimidade" com que os locutores têm com a população de Belo
Horizonte. "A atenção que damos, em toda a programação, sobretudo no
jornalismo e esporte, à opinião das pessoas, faz com que tenhamos intimidade
com a população", diz o executivo.
Essa relação de "intimidade" com o ouvinte, na avaliação de Carneiro,
é reforçada pela possibilidade de opinião dos comentaristas nos programas, e
pelo fato de os repórteres estarem sempre nas ruas da capital mineira.
As paróquias do município
"Eles
(os repórteres e locutores) vão para as paróquias, vão para as feiras,
acompanham os casos de polícia. Eles trabalham nas ruas, não ficam na redação.
Isso reforça a relação com a população, estão sempre presentes aos fatos. Isso
faz diferença entre ter ou não ter penetração", diz Carneiro.
"Não vejo problema nenhum, deles serem candidatos. Se voltam (para a
rádio) ou não, se forem eleitos, é decisão de cada um".
"Quase todos que se candidataram e perderam (a eleição), voltaram para a
rádio. Alguns que vencem a eleição, às vezes não voltam por causa do acúmulo de
atividades. Porém, se quiser voltar, pode voltar", afirma o executivo.
"Faz parte do jogo democrático".
O deputado federal Laudívio Carvalho
(SD) explica que, embora não consiga manter o programa diário "Itatiaia
Patrulha", às 17h, que tinha na rádio, após sua eleição em 2014, com as
atividades legislativas que teve de assumir, ele continua participando de
diversos programas da Itatiaia, sempre que pode.
"Mantenho contato com as pessoas, através da rádio, isso é muito
importante. Participo direto dos programas, sempre emitindo a minha
opinião", afirma o deputado.
"Meu voto é de opinião. Meu voto é de quem ouviu durante 35 anos a minha
opinião, sobretudo sobre segurança, na Itatiaia", diz Carvalho.
"Me enterrem com meu radinho ligado na
Itatiaia"
A
professora da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), Nair Prata, diretora
da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação)
e vice-presidente da Associação Brasileira de História da Mídia, conta que
Juvenal Rosalvo Bispo, 87, morador de Belo Horizonte, poucas horas antes de
morrer em 2008, teve frustrado seu último pedido em vida: ter um rádio na UTI
(Unidade de Tratamento Intensivo) no hospital onde estava internado para ouvir
a programação da Itatiaia. O filho dele tentou, mas não conseguiu entrar
com o aparelho "escondido" no hospital.
No dia seguinte, em 11 de novembro de
2008, o jornalismo da rádio Itatiaia deu ampla cobertura ao enterro de Bispo no
Cemitério da Paz, em Belo Horizonte.
"O filho, com a concordância da viúva e de outros parentes, colocou no
caixão, junto ao corpo do pai, um rádio ligado na Itatiaia, com pilhas
novas", diz a professora.
"A Itatiaia representa Belo Horizonte. Representa Minas Gerais. Não há
qualquer outro órgão de imprensa no Estado que tenha essa condição",
afirma Prata.
A especialista explica que não é somente a audiência da rádio na região
metropolitana de Belo Horizonte que, segundo ela, a Itatiaia tem o primeiro
lugar há décadas (com 94% da audiência na programação esportiva), que explica o
sucesso dos seus locutores nas urnas.
Prata lembra que Belo Horizonte não é sede de nenhuma das grandes redes de
televisão, que estão concentradas no eixo Rio-São Paulo e isso incomoda a
população. "A última emissora genuinamente mineira, com forte programação
local e de jornalismo, a TV Itacolomi, acabou no fim da década de 1970,
causando grande comoção na população, que se sentiu órfã", diz.
Assim, explica a professora, quando a Itacolomi acabou, a rádio Itatiaia soube
assumir o papel de "representar" a população, identificando-se como
defensora dos interesses de Minas Gerais.
"O slogan da TV Itacolomi era "a TV de Minas". A Itatiaia adotou
o slogan "a rádio de Minas" e soube incorporar muito bem esse papel
de representante dos interesses da cidade, dos moradores", afirma.
"Mas não é só isso", diz a especialista. "O fato de ter duas
redações, de jornalismo e de esportes, funcionando 24 horas por dia, com
diversas equipes de repórteres na rua, mantendo uma cobertura ágil e de
qualidade das notícias locais, sustenta também o prestígio da Itatiaia que é
alguma coisa inabalável, pelo menos até hoje", afirma.
"Qualquer líder político, empresário, sindicalista, morador de rua, dona
de casa, motorista de táxi que vá falar com a cidade, o faz pela
Itatiaia", afirma Prata.
"Os locutores, apresentadores e repórteres da rádio, por tudo isso, são
bastante conhecidos e prestigiados. E alguns deles se candidatam e conseguem
ser eleitos. Outros não. Há também muitos que se candidatam, mas perdem a
eleição", diz a pesquisadora.
A bancada da rádio Itatiaia em 64 anos
1. Alberto Rodrigues – vereador
2. Aldair Pinto – vereador
3. Álvaro Damião – vereador
4. Antônio Roberto – deputado federal
5. Catatau da Itatiaia – vereador
6. Dênio Moreira – deputado estadual
7. Dirceu Pereira – deputado estadual
8. Edson Andrade – vereador
9. Eduardo Lima – vereador
10. Eli Diniz – vereador
11. Fernando Sasso – vereador
12. Hélio Costa – deputado federal, senador e ministro
13. João Vítor Xavier – vereador e deputado estadual
14. José Lino Souza Barros – vereador
15. Junia Marise – vereadora, deputada estadual e federal, senadora e
vice-governadora
16. Laudívio Carvalho – deputado federal
17. Mário Henrique Caixa – deputado estadual
18. Mário de Oliveira – deputado federal
19. Nelson Carvalho – deputado estadual
20. Olavo Leite Kafunga Bastos – vereador
21. Tancredo Naves – deputado estadual
22. Vilibaldo Alves – vereador
23. Wânia Carvalho – vereadora
24. Wellington de Castro – deputado estadual